Saudade do português

A gente fica longe de quem esteve perto por muito tempo e sente muita falta. Sente também a paisagem que mudou, a rotina que já não é mais a mesma e até a comida de todos os dias que ficou diferente.
Pois uma das saudades que mais sinto é das palavras em português embora estejam, na verdade, aqui pertinho de mim. Nas aulas que eu dou, nas traduções que eu faço. E no pensamento, é claro. Porque lembrar e imaginar são verbos que também incluem cheiros, gostos e SOM. E se tem coisa que é sonora demais é o português. Bonito demais esse idioma!
Mas é diferente do que a gente fala todos os dias, na rua, na padaria, no ônibus, na conversa do dia a dia. Às vezes sinto falta, simplesmente, de dizer "saudade" e não precisar explicar o que é. E tem outras coisinhas mais, expressões fundamentais sem as quais parece que não dá pra ficar. Essas que a gente, certa vez, ouviu, aprendeu, repetiu e inventou. Com meu carioquês carregado, tô pensando, por exemplo, em:
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. sei lá . tô fora . dedo duro . caraca . moleque . dor de cotovelo . não enche . é fogo . não é mole não . que saco . nem vem . fala sério . ficou pra titia . caguei quilos pra ele. é muito manteiga derretida mesmo . muito baranga . muito gostosa . sem noção . bater um papo. mão de vaca . gente boa. gente fina. muito legal. parece que comeu cocô quando era criança . pimenta no dos outros é refresco . chove não molha . agora fudeu. dar um jeitinho . maneirissimo . bonitinho . lerdo . liso . farpado . demorô . beleza . valeu . partiu . fui .
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São muitas, milhares. E é claro que foram, de alguma forma, subtituídas por outras ótimas também. Mas a tradução não é uma ciência exata. É absolutamente humana e pessoal, aliás.
Saudade é saudade. Não tem jeito.

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